terça-feira, 4 de setembro de 2018

Ontem à noite eu decidi que iria começar a caminhar a partir de hoje de manhã, então coloquei meu despertador para às 6:15h. Dormi mal, mas, quando o bendito tocou, me obriguei a levantar da cama. Antes mesmo de sair do quarto, escutei um barulhinho familiar. Olhei pela janela. Chuva. Aquela que não caía há semanas. Que resolveu cair hoje. Voltei pra cama.

sábado, 25 de agosto de 2018

Revisando esse texto alguns anos depois, fiquei surpresa como tive coragem de expor esse sentimento aqui. Minha primeira reação ao me ver tão exposta foi reverter a postagem para rascunho e esconder nas profundezas desse diário esse tema que me é tão dolorido. Mas isso não seria certo. Confinar um lapso de coragem à escuridão só porque hoje me encontro mais covarde. Então deixo aqui, relutante, porém com fé de que mal não causará. Que eu esteja correta. 
______________________________________________________________________________
Nas últimas semanas, eu me dei conta de que preciso mesmo perder peso. E isso tem sido um problema enorme pra mim.

Depois de 3 anos com um ritmo de trabalho de 40h/semana + graduação noturna + tarefas domésticas e um ovário a menos, eu cheguei ao máximo que já pesei. 80 quilos. Absurdos e indistinguíveis 80 quilos. Tudo resultado da falta de tempo pra atividade física agendada e da necessidade constante de me sentir bem mesmo por míseros minutos enquanto degusto algo bom.

A pior parte, pra mim, é que são 80 quilos "imperceptíveis". Não porque eu me nego a enxergar, pois eu tento - eu paro em frente ao espelho e fico reparando no meu rosto, minha barriga, minhas pernas, mas nada disso se junta numa imagem completa de alguém que está tão acima do peso ideal. Eu sei que isso é resultado do abuso na infância, da depressão que desenvolvi naquela época, aos 3 anos de idade, e de como me odiei desde então, me culpei e castiguei fazendo comer o que não precisava, engordando meu corpo, retaliando minha alma, matando minha saúde por um erro que não cometi. Repetindo esse hábito por longos 22 anos. Hoje convivo com isso e o TEPT que "ganhei" me tirou a capacidade de ter uma auto-imagem fidedigna. Eu olho, mas não vejo. Na minha cabeça, aos meus olhos, não existe diferença entre eu nos meus 60 quilos e hoje. O que é horrível porque você não consegue mudar aquilo de que não tem consciência. Mas eu quero me sentir bem. E sigo vivendo essa angústia na tentativa forçada de me sentir bem. E, por repetir essa tentativa, já comecei e parei diversas dietas malucas. Só que perder peso rápido com dietas super restritivas não funciona. E eu sabia disso. Mas queria me sentir bem. 

Eu pensei que escrever sobre talvez ajude. Talvez tirando isso da minha cabeça, tornando palpável num lugar qualquer, eu consiga encontrar aquela fresta de amor próprio que está aqui em algum lugar e parar de me alimentar com coisas doces em excesso. Eu não quero mais castigar meu corpo por tudo isso. Eu só quero me sentir bem.  


domingo, 27 de novembro de 2016

A espera

É noite lá fora.
Cantam os grilos, vão-se os carros, quase agarrados uns aos outros, desfilam seus domingos recheados a gabarem-se de suas conquistas. Quão sólidas serão?
É silêncio cá dentro.
A ansiedade de um dia que tomou a força, restando às finitas horas o vazio do tédio. Quão previsível.
E nada.
Não é nada dentro que não confusão. Uma mistura metamórfica de desejos, insatisfações, pesares e prazeres engatados em nós de esperas infinitas. Que tanto aguarda? Se há apenas o agora e o agora que passa. Que não viver dispendioso esse. Que escravidão fatídica essa.

Aguardo, aguardo, aguardo.

Será dia.
E será?

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Entre o presente e o futuro

Há dias que venho lembrando do blog, alguma vontade de escrever, mas não pensei que houvesse nada a dizer que valesse a pena. Viajei, mentalmente, nos meus textos, repassando os bons e maus momentos e me satisfiz com a quantidade desses. Não queria vir aqui depositar mais tristezas, porque esse não era o intento no início e eu o corrompi assim fazendo. Qual não foi minha surpresa quando abri o blog e vi que minha última postagem era de fevereiro deste ano, contradizendo minha ideia de que foi uma despedida deprimida. Sim, eu pretendia parar de escrever, porque me chateia ver que fiz disto um depósito de decepções. Quando criei o blog, me deparei com a possibilidade de escapar do mundo e fazer daqui algo bom, mas com o passar dos anos, com a ausência de ouvintes amigos, fui destorcendo meu propósito aqui e acabei tornando-o outro refúgio melancólico, apenas para reclamar. Intento retirar os textos que seguem esse caminho, mas reluto ao pensar que assim, um olhar do futuro já não me veria tão autêntica.  

A reflexão me serviu de base para uma questão: que foi que eu fiz este ano que vale a pena escrever aqui? 

Pois bem, comecemos. 

Dentre todos os textos que escrevi até hoje, existe algo em comum. A pessoa que os escreveu nunca se sentiu quem sempre quis ser. Vou esclarecer. Quando você se imagina e pontua suas características, é inevitável avaliar em positivos e negativos os traços da sua personalidade. E, ao fazer isso, cria uma ideia fantástica de que a pessoa que você é e aquela que você gostaria de ser são indivíduos diferentes. Claro, no mesmo corpo, habitam o bom e o mau ser humano que você julga ser, mas não aquele ser perfeito, segundo sua avaliação. Eu passei muitos anos tentando me tornar essa pessoa, porém pelo caminho errado. Sempre forcei meu potencial ao buscar a perfeição, me cobrando vitórias e penalizando insucessos, como um ditador interno que aterroriza até suas menores células. O "General M". Era meu apelido entre minhas irmãs. 
Depois de alguns anos de terapia e de muito descobrir sobre mim, eu percebi que a origem da minha angustiante cobrança era um depressão intensa e acobertada, que eu já não podia mais alimentar. Muito duramente, comecei a seguir um outro caminho, o caminho da aceitação, partindo do princípio de que "Deus" é o único ser "perfeito" que "existe" e "Ele" espera que erremos, afinal estamos aqui e "Ele", lá. Essa mudança foi ideal para que eu abandonasse todos os planos alheios pra minha vida e seguisse o meu único sonho (que, na época, eu não sabia ser sonho), ser cientista. Eu pulei da Psicologia pra Medicina e da Medicina para a Biomedicina. E foi onde eu comecei a ser quem eu queria ser. 

Não precisei de anos adentro do curso para perceber que esse iria me proporcionar um caminho de infinitas possibilidades. Comecei trabalhando com proteínas, a duras penas, para compreender como coisinhas tão minúsculas fazem tanto com tão pouco. Depois de um ano, recebi, na caixa de emails da faculdade, um correio muito singelo noticiando uma oportunidade de estágio em Neurociência. Não foi naquele momento que o turbilhão de memórias da Psicologia me atingiu, me fazendo lembrar do quão fascinada eu era pelo cérebro humano, foi depois, quando, dentre 80 candidatos, me chamaram para a entrevista - Imagine a ansiedade personificada. Essa era eu - Fui, gaguejei, errei perguntas básicas de estatística de um gráfico bobo e saí com um "estamos torcendo por você", o que eu julgava ser um "sinto muito". Depois de alguns dias, embasbaquei ao ver meu nome da lista de contratados. 
Foi possível. Não porque eu me cobrei e saí bem na entrevista, porque isso não aconteceu. Foi possível, porque eu tinha decidido, meses atrás, que não cobraria mais de mim, nem da vida, me dar as oportunidades que eu achava serem as melhores. Essa era a pessoa que eu queria ser. E eu fui, num dos momentos mais importantes da minha vida, até agora. 
No laboratório, ainda estou aprendendo a manusear as máquinas, conhecendo o cérebro de um ponto de vista novo, de uma perspectiva dinâmica, me impressionando todos os dias com quão mais perto da minha pessoa ideal eu estou. Não pense que é fácil. Vencer cada dia o pessimismo da depressão e a cobrança do mundo é uma tarefa árdua, que só sei fazer com meditação e com muito diálogo comigo mesma. Mas se eu desistir...respira, inspira, expira...não, pelo que a vida tem pra me dar, vale a pena persistir.   








domingo, 25 de outubro de 2015

Em construção

Foram tantas palavras que a leitura não vai passar desta linha. Tantas emoções confusas e conflitantes que hoje ainda não existem gentilezas. Esta seria mais uma motivada pela surrealidade que me toma te contactar, mas como é desnecessário tentar, contento-me com o meio silêncio.

Percebi como é sóbrio aqui. Como é real e calmo, certo e seguro, da forma como sempre pareceu melhor ser. Como sempre pareceu ser o ideal, mas não é. Falta emoção. Percebi que quando o caminho é tranquilo, o aventureiro não se satisfaz. E por mais que reclamasse da inconstância, não sabe viver na consistência. Não suporta o caminhar tranquilo. Não tolera viver do óbvio. Desaprendeu a amar sem a insegurança. Passou a se entediar com a certeza. Tudo porque precisa dos altos e baixos para dizer se vive, para dizer o quanto vive. 








sexta-feira, 16 de outubro de 2015

The nonsense house of dreams

O piso de mármore não lhe parecia estranho. O espírito e o cheiro daquela casa eram facilmente reconhecíveis, mesmo em um sonho. Tudo ao redor era tão familiar e convidativo que seus passos não terminariam nos primeiros degraus. Não naquela noite. Deveria ser explorada.


O tap tap dos sapatos estalavam alto, ecoando em metros de paredes. Voltavam da escuridão do corredor anunciando abandono, pulsando medo no mesmo ritmo de seu coração. Não deveria temer, sabia, mas se estava escondido nas abcissas do seu inconsciente, não poderia ser bom.



A neblina vermelha corria como um rio, levando escada à baixo seus antigos brinquedos. Da mesma porta fechada vinha um som difuso, aflito. Havia apenas um fraco feixe de luz, mal iluminava o quarto. Via-se uma roseira, uma corda e seu pai.



- Pula um quarto de linha no jardim da casa, uma pedrinha no inferno, quer jogar uma no céu. Sua mãe está sentada ao portão, tricotando roupinhas. O reflexo do sol na janela lhe cega, ao tempo que vê as cortinas entreabertas. Sente um lapso de dor -



Do quarto à janela em um segundo. De costas à figura, vê apenas a sombra. Nas roseiras, se reflete a imagem, antes que se fechem as cortinas para sempre. O cheiro forte é da videira à janela.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Café

Não fosse pelo seu olhar a porta, eu não perceberia. Ele parecia distante, não como sempre. Era tenro, como se olhasse o nada e este o respondesse um "olá". E eu ali, mais uma vez, observava o seu rosto mirar o além.
Ele não parou, mas tempo e eu, sim. Nem mesmo infintos segundos naquele momento bastariam. Havia pouco mais que eu gostava do que olhá-lo. Do que experimentar aquela paz. Talvez porque visse nele um motivo que não encontrava há muito tempo, uma sensação inédita de completude. Talvez por ser Lua no nosso sistema, enquanto ele, Terra, permanecia uma razão para mim.
Tão certo, tão real. Já não podia negar. Os segundos foram passando e o seu olhar retornando. Como sempre, fitou- me, perguntando: - Vamos? E fui.